Por que o preço do azeite está tão alto
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Por que o preço do azeite está tão alto

São vários os motivos para a alta recorde. No Brasil, aumento em dois anos é de 50%, mas deve ser maior por conta da elevação do preço na Europa

Chefs, cozinheiros ou simplesmente amantes de azeites, preparem-se! O preço do produto já atingiu níveis recordes e não há perspectiva de queda. Ao contrário, pode ter novas elevações. O impacto já vem sendo sentido no bolso dos consumidores brasileiros. Em dois anos, o preço médio do produto nas gôndolas dos supermercados subiu de R$ 20 em julho de 2021 para R$ 30 neste ano. Um índice de 50%, bem acima dos 15% de inflação acumulada no mesmo período. Os dados são da Horus, empresa de inteligência de mercado.

Pode-se esperar índices maiores para os próximos meses. Basta observar a variação dos preços na região da Andaluzia, Espanha. O país é responsável por mais de 40% da produção mundial. E nesse mês de agosto o azeite atingiu uma alta de 116% em relação aos preços praticados há um ano. Com pequenas diferenças, o cenário se repete em outros grandes países produtores, como Itália, Portugal e Grécia. Essa variação certamente vai chegar por aqui nos próximos meses.

“Em 20 anos no setor, nunca vi estes preços”, disse Vito Martinelli, analista especializado em grãos e sementes oleaginosas. Bem, os consumidores provavelmente também não tenham visto. E se perguntam por que isso está acontecendo. A resposta é a mesma para nove em cada dez problemas relacionados à terra: mudanças climáticas. Para entender a questão é necessário voltar à safra anterior. “Os principais países exportadores de azeite tiveram um período de crescimento das azeitonas muito seco. As árvores não tiveram umidade suficiente e muitas delas não produziram nenhum fruto”, explica Kyle Holland, analista de óleos vegetais.

Os números da Itália e Espanha são exemplares… no mau sentido. O ano de 2022 foi o mais seco da Itália desde 1800, segundo a firma italiana de análise de dados Centro Studi Divulga. A Espanha produz normalmente entre 1,3 e 1,5 milhão de toneladas métricas de azeite por ano – cada tonelada métrica equivale a 1.000 quilos. Na safra 2022/2023, o país produziu algo em torno de 610 mil toneladas do óleo. Portanto, menos da metade. Entre produtores da Andaluzia, existe o temor de a Espanha simplesmente ficar sem azeite até o final do ano.

E ainda tem o Putin

A questão climática é importante, mas não é única. Um outro ponto ajuda a incrementar a alta dos preços: a guerra da Ucrânia. O confronto provocou impactos no mercado de insumos para o cultivo de oliveiras, como fertilizantes, por exemplo. Em outras palavras, a árvore de onde brotam as azeitonas ficou sem água e sem proteção e mais suscetíveis às pragas. Junte-se a isso o aumento da demanda mundial e temos uma “tempestade perfeita” em relação ao preço final do produto. Muito embora a expressão “tempestade” não seja muito adequada diante da falta de chuva reinante em terras produtoras da Europa nos últimos tempos.

Turquia fecha as portas

Com a queda brutal de produção e o aumento pesado dos preços, o mercado correu para outras regiões produtoras. Assediada, a Turquia radicalizou e anunciou há poucos dias a proibição da exportação de azeite de oliva até novembro, quando começa a próxima colheita. A preocupação do governo turco é com a possibilidade de elevação do preço do produto no mercado interno.

E o Brasil?

Muito tem se falado na produção nacional de azeite. Mas ela é, ainda, pífia. O Brasil é o segundo maior importador de azeite do mundo. Fica atrás apenas dos Estados Unidos. No ano passado, importamos cerca de 100 milhões de litros de azeite. E a produção nacional em 2023 deve chegar a 700 mil litros no ano. Em outras palavras, o produto nacional não chega a 1% do consumo. E o quadro da importação de azeite no país neste ano é preocupante. “Até julho, foram importadas 39 mil toneladas de azeite de oliva extra virgem, isso representa menos 20% em relação a igual período do ano anterior”, diz Rita Bassi, presidente da Oliva (Associação Brasileira de Produtores, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira, em recente entrevista para a BBC. Pode ficar pior, porque o preço está, em média, 34% mais alto. Grandes redes de supermercado garantem estar segurando o repasse total dos aumentos. Até quando, não se sabe. Para aflição de chefs, cozinheiros e amantes de azeites…

Com Informações: ES 360

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